09 setembro 2013

E se fossem demolir sua igreja?

Pois bem, amanhã é o 22o processo que a Missão enfrenta. O Ministério Público apelou: querem a demolição do prédio, já que "atrapalhamos o turismo nacional". Ou, na bem da verdade, atrapalhamos algumas atividades ilícitas dos coronéis da cidade e do estado e, portanto, somos alvo fácil das neuroses sem fim desses mimos capixabas.

Minhas voltas das aulas de Ballet são momentos de reflexão (não, caros corretores de dissertação, eu não estou fazendo uma mudança drástica e desconexa de assunto, esperem). 
Pois na minha volta de hoje ao meu estado normal (quem já me viu após uma aula sabe que meu estado não condiz com a normalidade), eu estava lembrando daquelas perguntas de efeito moral: "se sua casa pegasse fogo, o que você levaria?" - a qual os espertos já sabem a resposta que emociona: "minha caixa de retratos" ou "minha caixa de cartas".

E se derrubassem sua igreja? O que você levaria? 
E agora que querem (mais uma vez) derrubar a Missão? O que eu quero levar antes que o prédio venha abaixo (caso isso ocorra)?

Minha intenção não é emocionar os leitores não existentes deste blog. Muito menos mentir pra mim mesma (SANTOS, 1983). Mas eu não levaria as pessoas. 
Você deve estar pensando que tenho um coração um tanto ingrato. 
Mas não. Eu realmente espero que elas já estejam fora do prédio quando ele vier abaixo (repetindo, somente caso isso ocorra).
E eu bem sei que elas são A Igreja, O Corpo. Então conto que elas levem de lá o mesmo que eu. E penso ser muita pretensão querer levar as pessoas comigo para onde eu for, aconteça o que acontecer. Elas vão para onde Deus as levar. Se continuarmos todas juntas, maravilha! Caso contrário, um dia a gente se reencontra no lugar onde tudo será completo e onde Ministério Público não derruba prédio. 

Bom, e quanto aos utensílios (shalom!), objetos, materiais eletrônicos, daquelas coisas de escritório e os livros infindáveis que meu pai guarda por lá - quanto a essa parafernália toda (com respeito ao meus livros do C. S. Lewis que foi junto no meio da bagunça) eu fico tranqüila, vai tudo ser reestocado em algum lugar antes de demolirem, e se demolirem, o prédio mais peculiarmente construído desse planetinha.

Pois eu já trago comigo o que levarei das paredes azuis (por que essa cor, gentchi?!) da Missão. De cada sala mínima pro tanto de ser humano que elas realmente comportam. Do estacionamento desafiador. Dos armários com flyers antigos. Da sala de Ballet que me viu crescer (essa sim, pode demolir com aquela pilastra medonha, barras molengas e guarda roupa que não leva a Nárnia). Do palco que já me viu sorrir, chorar, pregar, jogar bolinhas de glória, dançar, cantar (fazer mímica enquanto os Araújos cantavam). Dos corredores que sabem muitas histórias. Do mirante que sabe muitas orações. Do prédio que sempre me recebe como minha casa. 

Levarei comigo memórias disso tudo. De ter crescido num lugar que é tão grande pra quem vem de fora, mas tão aconchegante pra quem ta dentro. É lá que eu tenho crescido em Deus. É lá que eu tenho crescido como gente e como família. Como deixar pra trás a lembrança do casamento da Deb e a apresentação do Joaquim? Como deixar os congressos, os ensaios, as ceias, as cantats, os cultos? O que aconteceu na minha vida foi Deus tecendo sua teia maravilhosa até aqui (VAZ, 20??) e nada disso vai ficar nos escombros. 
Nem mesmo os momentos difíceis, como o velório da Vó Isabel, ou como a quinta feira fatídica, que me fez crescer três anos em duas horas. 

Mas além das lembranças, vou levar comigo os sonhos. Isso é coisa que não tem coronel ou Ministério Público que me tire - e que nos tire. 
Sonho de que Vila Velha seja integralmente transformada. Sonho de ver cada criança alcançada por nossos projetos com educação de qualidade. Sonho de um dia meus filhos (calma pessoal, isso vai demorar) serem batizados (salve, Calvino!) ali, ou onde estivermos como Igreja. Sonho de ver as boas novas anunciadas, como têm sido dia a dia. É muito sonho que não cabe em apenas um único post (ainda não gosto dessa palavra, "post").

Acima de tudo, temos a Deus. Podem cair as paredes, podemos ter amnésia ou nunca mais sonharmos (existe alguma patologia que dá essa zica?). 
Mas ainda O teremos. E isso sempre será o suficiente. 
É Ele quem começou a boa obra e é Ele quem vai completa-lá. Como, eu não sei. Mas uma coisa eu sei: não somos dos que retrocedem. Não somos dos que se assentam em escombros. 
A dor é real. A perda machuca. Ver a preocupação dos meus pais me dar vontade de correr pra sala 11 e chorar no ouvido da Flávia Vaz. 
Mas o que Deus tem para nós como Igreja é intocável e incorruptível. 
Ele vive e, por isso, podemos crer no amanhã. Com prédio ou sem prédio. O amanha virá e não haverá temor. 
Nossa vida está nas mãos dEle, a Missão está nas mãos dEle: nosso Jesus, que vivo está.